Olhando minha jornada, percebi que eu sempre senti medo, medo de passar vergonha, do que as pessoas vão pensar da minha apresentação, de não dar conta das contas, de não ter feito a escolha certa em sair de uma empresa e ir para outra, das consequências por ter dado um feedback mais duro a um funcionário ou a um chefe. Medo de ter amizades aqui e não ali. Medo da nota de desempenho do fim de ano. Medo de não ser presente o suficiente para as minhas filhas. Medo de reuniões presenciais segunda-feira cedo e o trânsito implacável que causa estragos na agenda e na imagem. Medo de me posicionar e medo de não me posicionar também. Medo de rir naquela reunião porque eu sou brincalhona, mas não posso passar uma imagem de bobona. Medos e mais medos….
Aposto que você se identificou com pelo menos um medo meu aqui. E pensar que na hora a gente acha que é só com a gente, não é mesmo?!
Confesso que em algumas situações eu travei e o medo dominou, outras eu mandei o medo catar coquinhos e foi com medo mesmo. E, nessas situações, qual não foi minha surpresa ao ver que a consequência do medo não se concretizou. Que no fim o terror que fiz na minha cabeça foi bem superior as consequências de arriscar aqui e ali – ou de ser eu mesma…
Como santo de casa nem sempre faz milagre, eu preciso forçadamente me lembrar do que acontece no cérebro e o que a neuropsicologia diz sobre o medo, vem comigo:
- Amígdala: uma bolotinha pequena no meio do cérebro é a responsável por tudo isso. Ela avalia se o estímulo representa uma ameaça e envia sinais de alerta para outras regiões cerebrais.
- Hipotálamo: recebe esses sinais da amígdala e ativa o sistema nervoso simpático, que desencadeia as reações físicas do medo.
- Córtex Pré-Frontal: a grande central de processamento das informações no cérebro vai definir como nos comportaremos frente a esse medo.
Então, o pulo do gato, quando mais desenvolvido é seu CPF (córtex pré-frontal) mais fácil será superar o medo e se acalmar porque percebeu a tempestade que fez no copo d’água 😉
Mas e como desenvolvo meu CPF?
- Autoconhecimento: saber como você reage às situações, trazer para a razão e não agir aleatoriamente com a emoção descontrolada.
- Psicoterapia: promove esse autoconhecimento, faz a gente repassar nossos pontos fracos, dúvidas, perceber e corrigir os pontos cegos comportamentais, sentimentais e pensamentos disfuncionais.
- Pedir feedback, estar em desenvolvimento contínuo e humildade para admitir que sempre podemos evoluir.
Eu tenho um profundo e inexplicável medo de altura. Pavor. Nessa foto ai eu estava com minha filha na época com 5 anos, no prédio mais alto de Chicago (Willis Tower – 442 metros de altura), desses que você fica na plataforma de vidro para ver tudo abaixo e só de lembrar já tô com tremedeira de novo hahaha
Pegamos trocentas horas de fila, eu grávida num calor insuportável de julho pensava: mais uma vez eu me coloco em situações de altura e acabo desistindo. Paciência…
Chegou nossa vez de ir à plataforma e tirar fotos: “Eu não vou”. Minha filha me olhou, correu pro vidro de chão e na inocência de quem ainda não tinha a amígdala cerebral tão dominante, pulou lá, feliz da vida! “Vem mamãe!!!”
E eu… fui, apavorada, pensando que aquilo iria cair justo na minha vez. Usei todo o meu nulo conhecimento para conferir os parafusos, a vedação, as várias camadas de vidro, ah claro falei pra ela não arriscar e parar de pular (vai que não aguenta os 30 quilinhos dela?). Lembro de pisar na ponta dos pés como se pudesse economizar o meu peso e a preocupação triplicada por estar grávida “que irresponsável”!!! Olha o que o medo causa, ele bagunça toda a mente em questão de segundos – o famoso ‘sequestro da amígdala’. Mas eu retomava a consciência e me mantinha ali, tentando não mostrar medo para minha filha – tarde demais!
Por fim, sabemos que o medo é importante para nos tirar de situações realmente perigosas, mas no mundo corporativo, de relacionamentos, ele causa mais estragos na nossa mente do que em qualquer outro lugar. E ainda nos faz agir desconectados a nós mesmos…
É como dizia Carl Jung: “seja você mesmo, porque todos os outros já existem”
E você, tem medo do quê?!

